No primeiro dia da 17ª Plenária da CUT, o ex-ministro José Dirceu e o presidente da Central, Sergio Nobre, analisaram a conjuntura política e econômica do país e o papel da classe trabalhadora. “Sindicalismo precisa voltar ao centro da vida política para defender e ampliar direitos conquistados na Constituição de 1988.”
O ex-ministro da Casa Civil e liderança histórica do PT, José Dirceu, foi o convidado especial da 17ª Plenária Nacional da CUT João Batista Gomes (Joãozinho), aberta nesta terça-feira (14), na quadra dos bancários, em São Paulo. Com o tema “Novos Tempos, Novos Desafios”, o encontro reúne 598 delegados e delegadas de todo o país e discute o papel do sindicalismo na reconstrução nacional.
Ao lado do presidente da CUT, Sérgio Nobre, e da vice-presidenta, Juvandia Moreira, Dirceu participou da mesa de análise de conjuntura, abordando a ascensão da extrema direita, o fortalecimento da democracia, o papel do Estado e o desafio de consolidar as conquistas obtidas no governo Lula.
“O sindicalismo tem de ocupar novamente o centro da vida política”
Dirceu destacou que a reconstrução do país passa necessariamente pelo protagonismo da classe trabalhadora e de seus sindicatos.
“O sindicalismo tem de ocupar novamente o centro da vida política, como fez em 1988. Foi a CUT e foi o movimento popular que garantiram a Constituição Cidadã, que estabeleceu os direitos sociais e trabalhistas. Agora, a tarefa é defendê-los e ampliá-los.”
Segundo ele, o Brasil vive um momento decisivo, com queda do desemprego, retomada da indústria e valorização do salário mínimo.
“Não podemos depender de um ciclo econômico. Precisamos de reformas estruturais que garantam renda, emprego e cidadania para as próximas gerações.”
Reconstrução do Estado e soberania nacional
Dirceu lembrou que o país sofreu forte desmonte do Estado e das políticas públicas nos últimos anos, com privatizações e cortes orçamentários.
“precisamos reconstruir o Estado brasileiro, retomar empresas estratégicas e reindustrializar o país. Um Estado fraco é um Estado submisso.”
Ele associou a crise social e econômica à hegemonia neoliberal, reforçando que o Brasil precisa de um novo pacto nacional.
“A agenda neoliberal desmontou o Estado, destruiu a soberania e retirou direitos. Nós estamos reconstruindo o Brasil, mas precisamos de um novo pacto nacional para sustentar isso.”
“2026 será decisivo”
Dirceu alertou que o futuro do país está em disputa e que as eleições de 2026 serão um divisor de águas.
“Não basta termos o presidente Lula. Precisamos de um Congresso comprometido com a soberania nacional e com os direitos do povo. É essa base parlamentar que garantirá que o projeto iniciado em 2023 não seja interrompido novamente.”
“Ou consolidamos o processo de reconstrução do Estado e da economia, ou voltaremos à estagnação e à tutela dos interesses privados.”
Ele lembrou que a derrota do bolsonarismo em 2022 não encerrou o ciclo autoritário.
“Se Bolsonaro tivesse sido reeleito, talvez não estivéssemos mais aqui, reunidos. A democracia brasileira resistiu, mas ainda está sob ameaça. Por isso, 2026 é decisivo.”
Consciência política e mobilização popular
Dirceu afirmou que a transformação do país depende da mobilização do povo.
“A história nos ensina que sem mobilização não há transformação. A elite nunca abriu mão de seus privilégios por vontade própria. É o povo, nas ruas e nos sindicatos, que faz a roda da história girar.”
“Temos de reconstruir a esperança, disputar o sentido do que é o trabalho, do que é o Estado, do que é o Brasil. Essa é a nossa tarefa histórica.”
“Não podemos achar que basta vencer a eleição presidencial. Sem maioria no Congresso, sem força popular, o projeto de desenvolvimento e soberania não se sustenta. 2026 será decisivo para consolidar o que começamos em 2023.”
Disputa ideológica e valores
Ao analisar o cenário global, Dirceu afirmou que a ascensão da extrema direita é um desafio civilizatório.
“O que estamos enfrentando não é apenas uma disputa eleitoral, é uma batalha de valores. Eles querem um mundo branco, cristão e hétero; nós queremos um mundo de diversidade, solidariedade e justiça social.”
“A luta é também cultural e ideológica. Precisamos disputar o imaginário da sociedade, a narrativa do que é ser brasileiro. É preciso reconstruir o sentido de nação.”
Economia, desigualdade e o papel do Estado
Dirceu criticou as altas taxas de juros e a concentração de renda.
“Os ricos seguem isentos enquanto o povo paga a conta. O país é riquíssimo, mas a renda continua concentrada. Não é possível crescer sem distribuir.”
“Precisamos desconcentrar a renda e também o território produtivo. O Nordeste e o Norte têm de fazer parte do novo ciclo de desenvolvimento.”
“A juventude não aceita mais essas condições”
FIM DA ESCALA 6×1 JÁ! 🗣️
A juventude brasileira não aceita mais viver somente para trabalhar.
@zedirceuoficial deu o recado na #PlenáriaNacional: precisamos de todos juntos nessa luta! ✊🏽#cut #brasilsoberano #fimdaescala6x1 pic.twitter.com/RA7pr2I2th
— CUT Brasil (@CUT_Brasil) October 14, 2025
Em entrevista às redes da CUT, Dirceu abordou a luta pelo fim da escala 6×1.
“Há uma rebelião silenciosa da juventude brasileira que não aceita trabalhar de segunda a sábado — não oito horas, que geralmente são 10, 12 horas — em funções como empacador, caixa, açougue, padaria, construção civil. A juventude não aceita mais isso.”
“Os empresários estão reclamando que falta mão de obra, mas falta pelos baixos salários, pelos trabalhos extenuantes, repetitivos. Ao contrário do que andou dizendo por aí, essa é a verdade: a juventude não tolera mais essas condições.”
“Essa pauta é uma pauta de todos nós, da CUT, de todas as centrais sindicais e da maioria do nosso público. Como as pesquisas indicam, vamos lutar pelo fim da escala 6 por 1 e por melhores salários.”
Mobilização até 2026
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, reforçou que o movimento sindical precisa intensificar a mobilização até 2026, reorganizando a base e ampliando o diálogo com os trabalhadores informais. Entre as pautas prioritárias estão a atualização do modelo sindical, a luta contra a reforma administrativa, a redução da jornada para 40 horas semanais e o fim da escala 6×1.
“A disputa central é de consciência e de narrativa”, afirmou Nobre. “O sindicato precisa mostrar o que faz, o que conquistou, o quanto colocou de recursos na economia com aumentos reais e acordos coletivos.”
Novo ciclo de lutas
A 17ª Plenária segue até sexta-feira (17) e marca um novo ciclo de debates sobre o futuro do trabalho, a democracia, o desenvolvimento sustentável e a soberania nacional. A programação inclui discussões sobre precarização, pejotização, crise climática e estratégias de mobilização da classe trabalhadora.
Fonte CUT Brasil