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Presidente da CUT: 2023 terá empregos de qualidade, com sindicatos fortalecidos

Sérgio Nobre prevê que 2023 será um ano melhor, mas entende que será preciso união, fortalecimento e atualização do papel dos sindicatos para incluir trabalhadores que estão à margem da legislação trabalhista
 
Otimista em relação a melhores dias para a classe trabalhadora que, na sua avaliação, terá ganhos salariais e maior proteção social já a partir deste ano, o presidente da CUT Sérgio Nobre explicou o papel importante da entidade no movimento sindical e dos trabalhadores e trabalhadoras em ajudar o país a voltar a crescer com uma distribuição de renda mais justa.

A pauta para a classe trabalhadora defendida pela CUT, que este ano completa 40 anos em 28 agosto,  é a valorização do salário mínimo, a proteção aos milhões de trabalhadores que estão à margem da legislação, sem carteira assinada, com empregos precários como os por aplicativo do Brasil e o fortalecimento do movimento sindical.

Sérgio Nobre ressaltou que o trabalhador sozinho não tem poder e que será preciso unir forças junto aos sindicatos da categoria a qual pertence para recuperar a sua renda a partir de negociação coletiva.

Em entrevista ao Portal CUT, ele defendeu ainda a volta de obras como moradias pelo Minha Casa, Minha Vida , a  reconstrução de estradas e investimentos em transporte público. Ele pontuou ainda as pautas do movimento sindical que são de interesse de todos os trabalhadores que devem ser colocadas em prática para atingir esses objetivos, inclusive o combate à fome que atinge mais de 33 milhões de pessoas no Brasil.

Confira o que disse o presidente da CUT

Sérgio Nobre acredita que para criar postos de trabalho com carteira assinada, com proteção social e  contribuição previdenciária é preciso um movimento sindical forte.

O presidente da CUT conta que é fundamental a atualização do modelo sindical brasileiro e da legislação trabalhista porque ele foi montado para representar trabalhadores que têm carteira assinada no setor privado e aqueles que são concursados no serviço público.

“Hoje apenas é 45% da classe trabalhadora têm essa condição, os demais estão fora do modelo sindical e precisamos nos atualizar para recepcionar esses trabalhadores para que um possamos dar cobertura e proteção para todo mundo. É um desafio, mas queremos superar o problema histórico do modelo sindical, que é a fragmentação”, afirma.

Para atrair esses trabalhadores aos sindicatos, Sérgio Nobre propõe a união dos sindicatos menores, com menos associados, a outros sindicatos para que numa mesa de negociação com os empresários haja mais força por parte dos trabalhadores.

“Tem muito sindicato desestruturado e a gente quer estimular que eles possam se agregar, formar consórcios, organizações mais fortes com mais força na negociação coletiva que queremos estimular. É um grande desafio que vai exigir muito trabalho e muita dedicação”, diz.

Nobre cita como exemplo hipotético, se o sindicato dos metalúrgicos do ABC se fundir com o sindicato das indústrias da mesma região, qualquer pessoa pode fundar outro sindicato dos metalúrgicos e é isso que o movimento sindical não quer que aconteça.

O dirigente explica que para isso é preciso que um Projeto de Lei (PL) seja aprovado pelo Congresso Nacional, pois hoje a legislação permite que se um sindicato se funde a outro, pode vir outra pessoa e criar um sindicato, dividindo a base dos trabalhadores. Segundo ele, a discussão da formação de consórcios e federações entre os sindicatos já vem sendo feito em conjunto com o movimento.

Ele diz ainda que necessariamente não é preciso uma fusão entre os sindicatos, mas a criação de uma federação ou consórcio como fizeram os bancários que na hora de se sentar à mesa de negociação unem seus 130 sindicatos sob o Comando Nacional dos Bancários, e os direitos conquistados valem toda a categoria.

Fortalecer o movimento sindical é fortalecer a democracia. A democracia exige uma sociedade organizada. Sindicatos fortes ampliam direitos, conquistam melhores salários
– Sérgio Nobre

O presidente da CUT diz ainda que os trabalhadores têm que compreender que eles precisam pertencer a uma organização, pois nem tudo se consegue resolver por esforço individual e que até mesmo empresários se unem em sindicatos como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
“É um sindicato patronal poderoso que criaram para poder se relacionar com o governo e defender as suas pautas de interesse comum. Já o trabalhador só consegue melhorar a vida dele quando ele participa de uma organização. Quando ele sai de casa de madrugada para trabalhar numa indústria, dar aula ou trabalhar no campo, ele está gerando riqueza e ele precisa participar do debate do que vai ser feito dessa riqueza. Sozinho ele não consegue”, pondera.

O trabalhador só vai ter conquistas se estiver organizado no sindicato. Ele precisa ter consciência de que se quiser ser um cidadão que influencia os destinos do país, ele tem que se organizar e participar das organizações e quem constrói a organização mais forte é o sindicato
– Sérgio Nobre

Valorização do SM como forma de combater a fome e a miséria

De acordo com Nobre, o foco do presidente da República no combate à fome e à miséria é absolutamente certo, pois o país tem que voltar a crescer, combatendo as desigualdades e os problemas sociais e o efeito mais significativo para isso é a volta da política de valorização do salário mínimo, que vai chegar a todos os brasileiros.

A plenária que Lula realizou semana passada com o movimento sindical foi extremamente importante porque já colocou uma pauta para ser discutida com os trabalhadores que é a valorização do salário mínimo, e a gente sabe o que o melhor mecanismo de transferência de renda de redução desigualdade é valorizar o mínimo
– Sérgio Nobre

Investimentos necessários para o crescimento econômico

Segundo o presidente da CUT investir no transporte coletivo, na habitação e na recuperação de estradas vai gerar emprego de qualidade.
“É preciso mão de obra para construir linhas de metrô, mais ônibus e trens. O mesmo com a recuperação de estradas. Hoje 60% das estradas brasileiras não têm asfalto decente. Outra fonte de geração de empregos é volta de investimento em moradia popular com o Minha Casa, Minha Vida, projetos que o governo Lula já sinalizou que quer reconstruir”, afirma Nobre.

Proteção aos trabalhadores por aplicativos

Corrigir a extrema injustiça social com os trabalhadores por aplicativos que não têm direito a absolutamente nada, é outra pauta defendida pela CUT, demais centrais e do governo federal. Lula durante a reunião com sindicalistas na última quarta-feira (18) disse que “trabalhador não pode viver de bico”.
Sérgio Nobre lembrou a situação crítica dos entregadores que segundo ele, são mais visíveis do que os demais trabalhadores por Apps porque oferecem toda a comodidade para a população, como por exemplo, comprar uma pizza pelo celular que chega em casa se estiver frio ou chovendo e esse trabalhador não tem nenhum direito.

“Ele se arrisca a cair, quebrar a moto e não ter quem a conserte e ainda quebrar a perna em três lugares e não ter atendimento médico, não ter absolutamente nada. Essa é uma situação pré-revolução industrial. É preciso proteger esse trabalhador com uma regulação e, para isso foi montada a mesa de negociação”, conta.

Sérgio Nobre se refere à assinatura de Lula em um despacho que dá um prazo de 45 dias para que entidades sindicais e ministérios do governo federal tragam propostas para a regulamentação dos trabalhadores por aplicativos que somam só de entregadores 7 milhões.

O desafio é apresentar em 45 dias dois planos; um para a proteção aos entregadores e outro para a proteção dos demais trabalhadores por aplicativos
– Sérgio Nobre

“Tem ainda o pessoal do Uber e hoje você contrata qualquer profissional por aplicativo, seja médico, dentista ou professor. Então, é uma multidão de trabalhadores que precisa ter seu trabalho regulado. Essa é uma mesa extremamente importante e protetora. Esse povo é classe trabalhadora e a proteção vai melhorar significativamente a vida deles”, acrescenta o presidente da CUT.

A criação do Ministério do Trabalho

O primeiro passo, segundo Sérgio Nobre, para a criação de bons empregos e a valorização do salário mínimo que a CUT defende juntamente com as demais centrais como forma de fomentar o crescimento econômico, foi dado por Lula com a recriação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que está sob o comando de Luiz Marinho, ex-presidente da CUT.

“Estou plenamente convencido que 2023 será um ano muito melhor do que a gente teve nos últimos quatro anos quando a primeira atitude do governo de Jair Bolsonaro ao assumir a presidência foi extinguir o Ministério do Trabalho e ele fez isso coerente com o projeto de país e visão de desenvolvimento que a extrema direita tem”, afirmou.

Segundo Nobre, a visão da extrema direita é a de que para gerar emprego você tem que acabar com a legislação trabalhista, desproteger os trabalhadores, reduzir salários e acabar com movimento sindical e, por isso que o governo Bolsonaro acabou com o Ministério do Trabalho.

“A gente saúda a atitude do presidente Lula de recriar o Ministério do Trabalho porque mesmo que o país venha a crescer, e a história brasileira já mostrou isso na ditadura militar, que a desigualdade e a miséria se aprofundaram com trabalhos extremamente precários”, disse.

As escolhas de Lula para a pasta da Fazenda de Fernando Haddad, e as presidentas do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros  e da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano,  também receberam elogios de Sergio Nobre, demonstrando, segundo ele, de que o presidente da República acredita no crescimento econômico do país.

“Escolher Haddad que não é do sistema financeiro, uma mulher sindicalista da CUT na presidência da Caixa e uma mulher militante no movimento social no Banco do Brasil, isso é simbólico de que o PIB [Produto Interno Bruto] vai voltar a crescer”, disse.

Agenda cheia

Sérgio Nobre também se reuniu na semana passada com o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin e com o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, para debaterem pautas de interesse da classe trabalhadora.

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