Foi encerrado nesta quarta, 30 de agosto, na Philadelphia, EUA, o 6º Congresso da UNI Global Union – sindicato global que representa mais de 20 milhões de trabalhadores e trabalhadoras em todo mundo.
Foram três dias de intensos e produtivos debates, através dos quais líderes sindicais de todo o planeta puderam trocar experiências, aprender e se preparar para organizar os trabalhadores para a luta por um mundo mais justo, inclusivo e sustentável.
“Estes três dias de Congresso da UNI Global Union, e também as conferências que o antecederam, UNI Finanças e UNI Mulheres, foram muito importantes para a organização global da luta dos trabalhadores. Compartilhamos com companheiros e companheiras de todo o mundo nossas propostas, lutas e experiências bem sucedidas, e voltamos agora para a nossa base trazendo na bagagem o que aprendemos com eles”
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato e vice-presidenta para as Américas da UNI Global Union
Paz, democracia e direitos humanos
O primeiro painel do último dia do 6º Congresso da UNI Global Union teve como tema “Paz, democracia e direitos humanos”.
Em sua intervenção, o vice-ministro do Trabalho da Colômbia, Edwin Palma, lembrou que em seu país na última década foram assassinados cerca de 3 mil líderes sindicais e sociais, vítimas de perseguição política. Uma herança de violência de governos ultraliberais que, agora, a gestão de Gustavo Petro busca combater.
“Uma democracia real só é possível com liberdade sindical e a Colômbia ainda é uma democracia imperfeita. Por isso, estamos fortalecendo os direitos sindicais e a negociação coletiva”, disse Edwin Palma.
Mensagem do presidente Lula
Também no painel “Paz, democracia e direitos humanos”, a presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, leu uma mensagem do presidente Lula aos delegados e delegadas do 6º Congresso da UNI Global Union.
“Com vocês me sinto em casa. Não na minha casa brasileira, onde todos falam português e temos a mesma cultura. Mas uma casa maior, que acolhe a todos e onde nos entendemos em espanhol, inglês, coreano, árabe, ou tantos outros idiomas. A verdade é que temos, no fundo, a mesma linguagem. A linguagem do trabalhador. E é ela que expressa a luta das pessoas oprimidas. É ela que entoa canções de igualdade, embala sonhos de uma vida digna e de um futuro melhor”, iniciou Lula na mensagem lida por Juvandia.
O presidente brasileiro afirmou que as lutas por democracia, pelos direitos dos trabalhadores, pelo fim das desigualdades e pela sustentabilidade ambiental são uma só. “A escolha dos temas deste congresso demonstra isso muito bem”, avaliou.
Na mensagem, Lula disse ainda que não há como não se indignar com o fato de que 635 milhões de pessoas passem fome no mundo, enquanto as nações mais ricas continuam a gastar com guerras, e defendeu que os recursos da humanidade devem ser “aplicados para defender a vida, combater a fome e reduzir as desigualdades”.
“As nações mais pobres do mundo precisam contar com investimentos que gerem empregos de qualidade e libertem seus povos da fome e da miséria. Precisam de indústrias limpas, de agricultura de baixo carbono. São os países pobres que abrigam as soluções para a crise climática. Neles estão as grandes florestas e o potencial de geração de energia sustentável. Financiar esses países é financiar o próprio futuro da humanidade. Do mesmo modo, é urgente fortalecermos o poder de negociação da classe trabalhadora”, defendeu Lula.
Sobre os desafios da nova economia digital, Lula defende uma regulação que proteja empregos e direitos.
“Em uma economia digital, não podemos permitir que relações de trabalho sejam precarizadas para beneficiar apenas gigantes da tecnologia, que se colocam acima das regulações nacionais. Não podemos admitir que algo que poderia ser tão democrático como a internet se transforme em uma grande máquina de gerar poucos bilionários. A custa de milhões de pessoas vivendo em relações informais de trabalho, sem direitos”, avaliou.
“O planeta não aguenta mais a pressão ambiental. E a humanidade não aguenta mais a opressão alimentada pela cobiça de uma pequena parcela que tudo tem, tudo pode e nada quer dar em troca. Que esse congresso aumente a força de nossa luta. Viva todos os homens e todas as mulheres trabalhadoras do planeta”, encerrou o presidente brasileiro.
Mudar as regras para responsabilizar as empresas
No painel “Mudar as regras para responsabilizar as empresas” foi debatida a necessidade de criar regulações locais e a nível mundial para responsabilizar as multinacionais perante seus empregados e sua cadeia de valor.
Unidos por um mundo sustentável
No penúltimo painel do 6º Congresso da UNI Global Union, os líderes sindicais se debruçaram sobre o tema das mudanças climáticas, enfatizando que os trabalhadores devem estar no centro da necessária e urgente transição para um futuro sustentável, que seja equitativo, igualitário e justo para todos.
“Um futuro sustentável requer que nós lutemos por um novo modelo econômico inclusivo, sustentável e verde. Nós vamos nos levantar por isso, por uma transição para uma economia de zero carbono, com energias limpas e renováveis, e também pensar em políticas de preservação ambiental”, enfatizou Neiva Ribeiro.
“Nós também defendemos uma proposta de diminuição da jornada de trabalho para quatro dias na semana. Além de ser bom para os trabalhadores, para a saúde mental dos trabalhadores, para equilibrar o tempo de trabalho com o de lazer e cultura, também ajuda a reduzir as emissões de carbono, já que em alguns dias, em alguns horários do dia, os trabalhadores não estariam todos trabalhando ao mesmo tempo (…) Além dessa questão ambiental que está colocada, tem a questão de que as que as big techs poderiam usar parte da riqueza que arrecadam com o uso da inteligência artificial, dos algoritmos, da digitalização do trabalho, para contribuir pra geração de mais empregos no futuro, para mais capacitação. Contribuir com o futuro do trabalho, do emprego e do planeta”, acrescentou.
Juventude
O último painel do dia abordou questões relacionadas com os jovens trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo.
A secretária-geral do Sindicato e presidenta mundial de Juventude da UNI Global Union, Lucimara Malaquias, abriu a sua fala afirmando que as consequências da crise climática, das guerras, dos conflitos geopolíticos e da inteligência artificial “têm gerado fortes impactos econômicos que afetam drasticamente os níveis de emprego e as condições de vida de todos, mas principalmente dos mais jovens”.
Lucimara citou que a conjuntura atual deu origem ao que especialistas chamam de desilusão juvenil, traduzida na falta de confiança nas estruturas econômicas, políticas e sociais. De acordo com a dirigente, essa desilusão pode representar uma ameaça às conquistas sociais, ameaçando a estabilidade econômica e, consequentemente, o bem-estar coletivo. “Os sindicatos podem e devem ser espaços de acolhimento e de empoderamento dos jovens”, avalia.
“Como líderes sindicais, temos a responsabilidade de apoiar nossos jovens, investir em suas habilidades e capacidades, construir uma geração de líderes que fortalecerá nosso movimento e nos ajudará a avançar nos direitos coletivos. Mas, para isso, precisamos lembrar quem fomos, quem somos e como chegamos até aqui como ativistas e transformadores sociais. A mensagem da juventude da Uni Global é que ´precisamos promover uma mudança que não seja apenas do sistema, mas uma mudança civilizatória. E não se promove uma mudança civilizatória sem a participação e a voz da juventude´. Apoiem, ouçam e valorizem os jovens. Viva a juventude da Uni”, concluiu a secretária-geral do Sindicato e presidenta mundial de Juventude da UNI Global Union.
Eleição
No último dia 6º Congresso da UNI Global Union foi eleito o novo corpo diretivo da UNI Global Union, que contará com Christy Hoffman como secretária-geral, reeleita; e Gerard Dwyer, novo presidente da entidade.