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sexta-feira, 19 de abril de 2024

EM CIMA DA HORA

publicado em 27/03/2019

Mais de 15 mil pessoas passam horas numa fila em busca de uma vaga em São Paulo

Uma fila gigantesca se formou no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, na manhã desta terça-feira (26). Eram cerca de 15 mil trabalhadores e trabalhadoras, jovens e de meia idade, com ou sem experiência, a espera de  uma senha  (distribuída somente hoje) para os quatro dias do mutirão do emprego, organizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, o Sindicato dos Comerciários e a União Geral dos Trabalhadores (UGT).

A maioria das 6 mil vagas de emprego eram para os setores de  serviços e comércio, como telemarketing, operador de caixa, atendente e vendedor de loja mas, muitas das pessoas na fila estão desempregadas há tanto tempo que não queriam saber o que a vaga oferecida exigia que eles fizessem nem quanto iriam pagar. Qualquer coisa servia, desde que desse para colocar comida à mesa e pagasse o aluguel.

Aparentemente, a maioria na fila era de pessoas entre 20 e 40 anos. Mas havia também muitos homens acima de 50, que se recusaram a dar seus nomes e contar suas histórias por vergonha da situação que estão vivendo.

Mas quem falou tem em comum a mesma história. Se vira como pode, fazendo qualquer coisa, está sem carteira assinada há no mínimo dois anos e foi para a fila do mutirão do emprego desde a madrugada, alguns chegaram lá na segunda-feira de manhã e dormiram ao relento, em busca do sonho de conseguir um emprego.

Este é o caso do baiano Cristiano Cardoso dos Santos, que chegou à fila, no Vale do Anhangabaú, às duas da manhã. Aos 41 anos, morador da zona leste de São Paulo, o carpinteiro diz que está desempregado há cinco anos e que se “vira” vendendo água nas ruas de São Paulo para pagar a pensão dos cinco filhos.

"Minha sorte é que tenho casa própria, que comprei durante o tempo que o Brasil tinha o melhor presidente que este país já teve, que foi o Lula. A gente tinha emprego. Não precisava passar por esta humilhação. Hoje sou humilhado toda vez que a polícia vem tirar de mim a água que vendo pra botar comida na boca dos meus filhos", diz Cristiano Cardoso dos Santos.

O carpinteiro se queixa da prisão de Lula. Diz que não se conforma com a Operação Lava Jato e com o atual ministro da Justiça Sérgio Moro, que mandou prender o ex-presidente quando era juiz da Lava Jato, sem crime, sem provas de qualquer ato ilícito. "A televisão não mostra, mas o pobre virou gente depois que Lula entrou na Presidência", afirma.

Da mesma tristeza com a atual crise econômica compartilha o pintor Alexandre de Alcântara, 37 anos, desempregado há dois, desde que a crise na construção civil destruiu milhares de vagas no setor.

Casado e pai de um menino de seis anos, o paulistano do bairro Campo Limpo, na zona sul, lembra dos bons tempos do boom do setor, em 2014, quando a taxa de desemprego era de apenas 4,3% e que, após o golpe de 2016 que retirou Dilma Rousseff da Presidência, subiu para 13%.

“Hoje em dia é muita concorrência. Você vai às agências, deixa currículo e nem recebe um telefonema. Tive até de morar com a minha sogra porque o salário de vendedora da minha mulher não cobre todas as despesas”, lamenta Alexandre, que chegou à fila às cinco da manhã.

Apesar de madrugar, o pintor saiu desanimado já que as vagas eram, em sua maioria, voltadas ao comércio.

“Na área que tenho experiência, inclusive em portaria de prédio, não tinha vaga, só para operacional de mercado. Eu disse que aceitava qualquer coisa. Mas ainda preciso entrar num site, passar meus dados e aguardar ser chamado”.

Já Valdinéia Gomes, também com 37 anos e igualmente desempregada há dois anos, conta que mora em casa própria com a mãe e o padrasto, na zona sul de São Paulo, mas nenhum deles tem emprego fixo e o último com carteira assinada que ela teve foi de controladora de acesso.

“Estou procurando emprego na minha área. Sei que a faixa salarial fica entre R$ 1.200,00 e R$ 1.300,00, mas enquanto não aparece nada eu faço free lance em Buffet “, diz Valdinéia.

Enquanto Valdinéia procura vaga em sua área, a jovem Graziela Cesário, de 22 anos, faz parte do contingente de jovens brasileiros de até 29 anos, que estão desempregados. Hoje, de cada 10 desempregados, 5,4 são jovens. 

Ela conta que mora na zona norte da cidade, com o pai aposentado e a mãe em vias de se aposentar e mais dois irmãos, que também estão desempregados.

“Tenho curso superior. Sou formada em Eventos e Tecnologia, mas trabalhava com telemarketing. Hoje, qualquer vaga serve porque a renda em casa não passa de dois salários mínimos”, {R$ 1.996,00}, diz a jovem.

Mais experiente, Ronaldo Damasceno Pereira, de 54 anos, também esteve no mutirão de emprego no Vale do Anhangabaú à procura de uma nova oportunidade. Operador de cobrança, sem conseguir pagar o aluguel foi morar com a sogra, a mulher e os três filhos, de 25, 20 e 18 anos, na zona leste da cidade.

“Minha esposa também trabalha com cobrança e os dois filhos mais velhos trabalham, mas o mais novo está tentando uma vaga de aprendiz “, conta Ronaldo, que não tem conseguido um emprego fixo há dois anos, na faixa salarial de R$ 1.400,00, que ganhava antes da crise econômica.

“Agora nem posso escolher salário. Tenho de pegar o que aparecer”, disse ainda na fila dos milhares de desempregados que se estendia, desde a noite anterior, ao longo do Vale do Anhangabaú.

Mais de 15 mil trabalhadores enfrentaram horas numa fila para pegar uma senha no mutirão do emprego

O mutirão do emprego acontece entre esta terça (26) e a próxima sexta-feira (29) na sede do Sindicato dos Comerciários, localizado na Rua Formosa, 99, das 8h às 17h.

Para se candidatar a uma vaga de emprego, é preciso levar RG, CPF, carteira de trabalho e currículo impresso.
  Fonte: CUT
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